Somos chocados com o despedimento anunciado de 50
mil funcionários públicos, com o que isso representa de aumento do desemprego
como chaga social. Ora, embora isso não costume ser apresentado como solução
mais ou menos provisória, lê-se por vezes nos jornais que empresas europeias, e
entre nós a Auto-Europa, têm adoptado uma redução do tempo de trabalho de todo
o pessoal, garantindo assim que não se despede ninguém, o que significa
repartir a solução ‘corte nos custos’ por toda a gente, o tempo que for necessário;
significa uma solução positiva de solidariedade entre as pessoas em vez duma
chaga sobre uns tantos. Um amigo meu trabalha numa fábrica no concelho de
Cascais com 70 trabalhadores que há um ano que trabalham apenas 4 dias por
semana, contentes por apesar de ganharem menos terem evitado o desemprego e da
solução ser colectiva. Em termos de função pública, essa diminuição teria
óbvias vantagens, não apenas por guardar trabalhadores experimentados em
funções que frequentemente não têm equivalência em empresas privadas, mas
inclusive porque poderia, na escola porventura, dar mais trabalho a professores
não colocados, em vez desta aberração de se querer que o pessoal trabalhe cada
vez mais quando o desemprego cresce. De qualquer forma, ninguém pode garantir
que uma parte do desemprego actual tão elevado não resulte da tecnologia
electrónica, robots e computadores, e que estejamos em época de transição para
uma semana de 4 dias de trabalho como continuação do avanço civilizacional dos
últimos dois séculos. O que agora seria provisório em certos sectores poderá
ser definitivo daqui a algum tempo para toda a gente.
Carta Público, Outono 2012
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